quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Imagem do Som

Projeto pioneiro do Museu da Imagem e do Som do Pará recupera importantes filmes históricos do país

Patrocinado pelo BNDES, o projeto digitalizou 20 filmes de seu acervo, dos autores Líbero Luxardo, Milton Mendonça, Alceu Massari e Giovanni Galo.

Previsto para 2011, o resultado do projeto disponibilizará as principais coleções catalogadas e trechos dos filmes digitalizados para acesso livre de pesquisadores e público em geral, alem de copias novas em 35mm dos 20 filmes selecionados.

Entre cinejornais e registros documentais, destacam-se imagens da construção da rodovia Belém-Brasília e cenas da Marcha da Família com Deus pela Liberdade em Belém, de 1964, do cinegrafista paraense, Milton Mendonca. 

Além da higienização das películas e digitalização de seu conteúdo, o projeto prevê ainda a reestruturação física do museu para melhor acondicionamento e organizacao de seu acervo.


Segundo Boris Kossoy, no livro Fotografia e História*, a fotografia carrega, entre outras, duas características históricas essenciais: como fonte primária, a fotografia original é um artefato histórico que desvenda técnicas típicas da época em que foi produzida. Ela própria como “objeto museológico”. Como fonte secundária, o registro visual nela contido retrata diferentes aspectos da vida passada de um país, de uma sociedade, de uma família. Reunindo “um inventário de informações acerca daquele preciso fragmento espaço/tempo retratado”, a fotografia como instrumento de pesquisa presta-se à interpretação da vida histórica.

Ao estender tal entendimento para as imagens em movimento, ao audiovisual, o projeto Preservação da Memória do Acervo de Películas do Museu da Imagem e do Som do Pará (MIS/PA) resgata importantes imagens históricas do país, não apenas para a história do cinema documental brasileiro, mas também para a história social, econômica, política e cultural da Amazônia paraense e do Brasil das décadas de 1950 e 1960.

Contemplado pelo edital de “Apoio a Projetos de Preservação de Acervos – 2008”, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o projeto realizado pelo Museu da Imagem e do Som do Pará, MIS/PA, é pioneiro tanto para o BNDES quanto para o Museu, pois é a primeira vez que um acervo de audiovisual da região Norte passa por um processo de reestruturação desse tamanho.

O patrocínio contempla quatro etapas de ações fundamentais: Catalogacao; Higienizacao e Acondicionamento; Preservacao/ Restauracao e Gerenciamento de Ambiente

A primeira e mais importante é a preservação de algumas películas do acervo. Para isso, foi feita a avaliação entre os mais de dois mil filmes que compõem o acervo do MIS/PA. Diagnosticou-se que parte do acervo necessitava de medidas emergenciais de recuperação, objetivando salvaguardar os filmes para preservar a história audiovisual do Estado. Depois de estabelecer critérios de graus de deterioração e valor histórico, foram selecionados 20 filmes em super-8 mm, 16 mm e 35 mm, de quatro coleções do museu, dos autores: Líbero Luxardo, Milton Mendonça, Alceu Massari e Giovanni Galo (ver lista completa dos títulos abaixo).

Inicialmente os filmes passaram por um rigoroso processo de higienização no proprio MIS e posteriormente no Megacolor/ SP, para que os 20 filmes fossem telecinados (digitalizados) nos Estudios Mega em SP, gerando cópias em HDCAM e outros formatos digitais, DVCam, DVD e formatos Movie para posteriormnete serem acessados no site do MIS, que encontra-se em fase de construcao. 

Na segunda etapa, a partir das matrizes digitais em HD, esses filmes passarão pelo processo de “transfer”, o qual resultara copias novas em peliculas de 35 mm. 

Outra ação do projeto foi a parceria com instituições de referência na preservação audiovisual brasileira, como a Cinemateca Brasileira, por meio do SIBIA (Sistema Brasileiro de Informação Audiovisual) e a Fundação Padre Anchieta. Essas instituições, além da consultoria ao projeto, qualificaram os funcionários do MIS/PA por meio de cursos os funcionarios e terceirizados envolvidos no projeto.

Por fim, o MIS/PA passará por uma reestruturação física das dependências do acervo para o melhor acondicionamento das películas. Para isso será adquirido um controlador eletrônico de umidade, aparelhos de ar condicionado, estantes apropriadas para receber os estojos com os filmes, computadores para catalogação e criação do banco de dados, além de outros artigos para o melhor manuseio das películas.

Desta forma, todas as ações do projeto têm o objetivo de facilitar o acesso de pesquisadores e realizadores a esse conjunto de imagens, além de ampliar a capacidade de divulgação, uma vez que facilitará a programação de mostras e exibições para o público com maior segurança para o acervo. 


Coleções contempladas pelo projeto
Preservação da Memória do Acervo de Películas do Museu da Imagem e do Som do Pará (MIS/PA)

Coleção Líbero Luxardo
Paulista de nascimento (natural de Sorocaba), paraense por adoção, Líbero Luxardo (1908-1980) continua sendo um nome seminal da cinematografia do Estado do Pará. Diretor do primeiro longa–metragem paraense, Um dia qualquer (hoje, o filme faz parte da Programadora Brasil, iniciativa da Secretaria do Audiovisual, do MinC), Líbero tem nesse projeto dois documentários em curta-metragem, Pescadores da Amazônia Viagem ao Rio Purus, e o trailer de Um diamante e cinco balas, filme de longa-metragem de 1968, desaparecido, que tem no elenco Maria Gladys e Luiz Linhares e trilha sonora de Waldemar Henrique.
Para comemorar o centenário do cineasta, em 2008 o MIS/PA realizou uma mostra de filmes e seminários com toda obra de Líbero Luxardo pertencente ao acervo do museu.

Coleção Milton Mendonça
Cinegrafista de alguns filmes de Líbero Luxardo (entre eles, Belém 350 Anos), Milton Mendonça foi a face paraense da produção dos cinejornais brasileiros antes da popularização da televisão. Por meio de sua produtora “Juçara Filmes”, o cineasta cobriu a modernização da cidade de Belém e do Estado do Pará. Ele registrou inaugurações de bancos, abertura de estradas, iluminação de avenidas e eventos oficias. Filmou também desfiles de escolas de samba, partidas de futebol, exposições de arte, lançamento de livros e significativos movimentos sociais (como a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, de 1964), a maioria com narração de Cid Moreira. Foi produtor de documentários mais extensos e bem elaborados a serviço do governo estadual. Sua produção representa o mais importante registro em não-ficção da primeira metade do século XX no Pará.

Coleção Giovanni Gallo
Natural de Turim, na Itália, o padre Giovanni Gallo (1927- 2003) foi um visionário guardião da cultura do caboclo amazônico. Ele criou, em 1972, “O Museu do Marajó”, localizado no município paraense de Cachoeira do Arari.
Com o propósito de valorizar e salvaguardar a história cultural e natural da Ilha, padre Gallo valeu-se, entre outras estratégias, do suporte audiovisual para levar à frente seu projeto. Com uma câmera super-8 mm, equipamento mais acessível da época, Giovanni Galo realizou uma série de filmes que formam um mosaico visual de valor inestimável para a cultura paraense. Desprovido de pretensões artísticas, tampouco jornalísticas, movido apenas pelo afinco de registrar, padre Gallo produziu vários filmes como: Caça ao jacaré e A pesca, sobre os hábitos dos nativos. Além de PanorâmicaAnajásImagens do Marajó, centrados nas paisagens e cotidiano do povo marajoara.

Coleção Alceu Massari
Produtor e cineasta, Alceu Massari foi diretor de produção do filme O Bom Burguês (1979), de Oswaldo Caldeira. Trabalhou também na companhia Atlântida e dirigiu algumas pornochanchadas entre elas Carícias Sensuais, de 1984. Um material pouco conhecido em sua filmografia são seus filmes sobre a questão indígena na Amazônia. Massari fez valiosos registros sobre rituais, reuniões e festividades. No acervo do MIS/PA há os filmes: Índios gaviãoNhambiquaraMutirão e Assembléia Indígena, os dois últimos contemplados no projeto de preservação.


Sobre o MIS/PA

Fundado em 1971, pela escritora paraense Eneida de Moraes, o Museu da Imagem e do Som do Pará reúne hoje mais de dois mil filmes somente em película. O MIS é um órgão da Secretaria de Cultura do Pará, vinculado ao Sistema Integrado de Museus e Memória - SIMM. Está localizado nos altos do Museu de Arte Sacra, na Igreja de Santo Alexandre, construída pelos jesuítas no século XVII, uma das mais antigas de Belém.

Entre as raridades de seu acervo, destacam-se os filmes da coleção da Primeira Comissão Brasileira Demarcadora de Limites – PCDL, vinculada ao Ministério das Relações Exteriores. São filmes em nitrato produzidos na Amazônia nas décadas de 1930 e 1940, hoje em depósito na Cinemateca Brasileira até o momento em que o MIS/PA possa acolhê-los novamente. Há registros das expedições que a PCDL fez para delimitar as fronteiras física e humana da Amazônia brasileira. São imagens de rios ainda virgens e comunidades ribeirinhas, que dariam origem a algumas cidades dos estados do Acre, Roraima, Amazonas e Pará. Há também imagens de índios ainda não colonizados, entre eles os índios da hoje conhecida Terra Indígena Raposa Terra do Sol.

Lista completa de filmes: cineasta, filmes, bitola e imagem

Autor
Filme
Bitola
Imagem
Alceu Massari
Assembléia Nacional Indígena de Kumarumã – Parte I
Super-8
cor
Assembléia Nacional Indígena de Kumarumã - Parte II
Super-8
cor
Mutirão
Super-8
cor
Giovanni Galo
Igreja
Super-8
cor
Barcedo
Super-8
cor
Jacaré Verão 1976
Super-8
cor
Famílias, Canoas
Super-8
cor
Milton Mendonça
Milton Mendonça
Cinejornal nº 2
35 mm
PB
Milton Mendonça
Cinejornal nº 3
16 mm
PB
Milton Mendonça
Cinejornal nº 4
16 mm
PB
Milton Mendonça
Cinejornal nº 5
16 mm
PB
Milton Mendonça
Cinejornal nº 6
35 mm
PB
Milton Mendonça
Cinejornal nº 7
16 mm
PB
Milton Mendonça
Cinejornal nº 8
16 mm
PB
Milton Mendonça
Cinejornal  nº 9
16 mm
PB
Milton Mendonça
Cinejornal nº 10
16 mm
PB
Milton Mendonça
Cinejornal  nº 11
16 mm
PB
Líbero Luxardo
Pescadores da Amazônia
35 mm
PB
Viagem ao Rio Purus
35 mm
PB
Um Diamante e Cinco Balas - Trailer
35 mm
PB


* KOSSOY, Boris. Fotografia e História - 2ª Ed. Rev. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001, páginas 40, 47, 55 e 56.


 Cultura é 13!

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